Separados, pensamentos juntos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

 
Imagem em DeviantART
Manga com sabor de beijo na esquina. Música que se confunde com imagem. Sorriso cor lilás e cheiro de maçã. Ando por cima da água pra brincar de Deus, balanço a perna sem parar, meus dedos coçam, queria estar noutro lugar. Mão que transpira e busca solução pra coisa que quer dizer, mas não diz. Sinto saudade de amor carnal nunca experimentado, como das flores que cantam sozinhas pra me fazer companhia. Não pense que estou tentando usá-la, foi só encontro que estava pronto a ser marcado. Quando estou com você, o inesperado sempre acontece e fico sem controle, mas sempre minto no final. Há sempre crianças jogando bola e saudade de tempo que não volta mais, mas não sinto falta. Pois tenho existência inquietante de quem não se mostra apesar de se despir, já que sempre me incomoda o filho do vizinho que faz manha pra não ir à escola.

Sou sorvete derretendo em pingos que lembram tarde de verão, ou clara de neve com limão que encobriu o último bolo da vó, ou poesia sem sentido sobre caminhos já trilhados. Com você passaria a tarde sorrindo trilho de trem, estação que é o esboço da minha próxima pintura, sua companhia me faz esquecer que um dia já sofri. Eu já sofri? Sofrimento que estava ao lado até uns dias atrás, abri as janelas e o sol apareceu, até as flores no jardim estão dançando. Tenho voz de homem que diz mentiras pra esconder as rugas de quem já amou demais e fecho portas e blindo cadeados pra prender felicidade furtiva. Sinto garganta seca de tanto esconder palavra, de tanto fugir, mas que segue a vida em paz. Estou sempre em busca de fonte de água pura, felicidade que brilha, que é sino de capela, que é benção apostólica, moça sorrindo no portão, pés descalços, vestido florido, rosto lavado, uma tarde de sol.

Mostro minha alma obscura a você e não importa se o tempo está acabando, sempre será pouco, com você vou sempre depois das cinco da manhã, fazendo brincadeira de criança, porque faz de conta é parte da tragédia da vida. Escondo alma e tento abrir o coração, mas tem frase que precisa ser dita pra não haver separação. Brincadeira de aprendiz, somos gente que não sabe viver sem cair. Antes fosse mulher de verdade, é mulher pela metade, partida sempre te faz chorar. Mas é vida, é caminho comum, gente que sofre, que não lembra que sofreu, que se agarra, que canta, que mente, que diz, que é viajante e, olhando o olhar de quem fica só, agora sei a dor que já causei, não pensei que fosse tanta mas ninguém tem culpa, a vida é feita de viagens também.

Tem agora um brilho no escuro que finge ser vida, mas é vela que se apagou a alguns anos-luz e velo por toda falta de luz, rezo o credo que dá vida toda vida e, se não precisar de credo, rezo a lógica que dá paz à falta de fé. Esse ritual de acasalamento, entre o vermelho sofrido e o fio de vestido que sobrou em mim, busca incessantemente por paz, mas quer loucura em seu copo de mulher sofrida. Todo ritual exige passagem. Em alguma passagem o rito dá significado à magia sonhada em cinema mudo, essa seqüência de fatos psicológicos, em tempos perdidos entre o querer ir e a vontade de morrer sem ter você. E tenho mesmo que partir, mas levo nossa paz aonde for, que é cor de rosa, cor de rosa despetalada.

6 comentários:

Leandro Neres disse...

Olá pessoal! Saudades mesmo! To em viagem, mas sempre que der posto algo e o texto de hoje é especial...
Abraços!
E na sábado estarei no Coisas do Brasil!
o/

Camila disse...

Lê, lendo esse texto agora, nem acredito em como escrevemos ele. Como um texto desses nasce, cria história e termina em 15 minutos. 15 minutos de pensamentos seprados que virou gente junto, com história de amor sofrida e que poderia ser real.

Já estou esperando pra gente escrever de novo, tá? Heheheh... Volta logo que a gente tá com saudade de você! E muita!

E é sempre uma honra escrever com você. Sempre.
Muito obrigada por mais essa experiência!

Beijos grandes!!!

PS: A música ficou perfeita!

Lorena disse...

Que coisa mais linda, mais linda mesmo...
Eu me impressiono (como diria sabiamente a Jhoy) com o talento de vocês dois juntos, é obra de arte, é lindo demais...

Só posso dizer que me emocionou, de verdade. Parabéns. =)

@dddrocha disse...

li nada. mas volto amanhã pra ler. =)

Dulce Miller disse...

Prometo que um dia eu aprendo a escrever bonito assim!
Venho aqui pra aprender!^^

Lindo, lindo, lindooooooo!!!

Letícia disse...

Eu roubaria esse texto pra mim. Esconderia de todos. Seria só meu. Porque é tudo e ainda é mais o que sinto. Me perdoe essa gente que diz que Literatura não fala só de "você". Eu sou o sujeito do texto e sinto as tardes em todas as palavras. Belo trabalho de vocês. Fiquei pra lá de conotativa. =)

Beijos.