Você dá o tom da paz para minha dor.

quarta-feira, 22 de julho de 2009



Por Leandro Neres e Camila Costa.


Acordo as sete da manhã,
vinho tinto sem sabor,
riso falso disfarçando a ilusão
e os sons vêm, pra me embalar a alma, o dia.

Alguém já pensou o que seria
o mundo sem os sons?
Os da manhã, especialmente,
aumentam a minha força pra viver,
pra levantar, também.

A brisa fria passa levemente pela janela,
algum pássaro canta por aí, as folhas balançam...
Sinto um despertar que não vem das horas marcadas
levanto-me e vou ao encontro daquilo que fugi.

O som do aconchego abraça minha dor
ela é acolhida e o acalento vem de braços e mãos
que sinto em meu coração, parte a dor, fico só
Somente meu silêncio e imagens que insistem em despertar.

Imagem de Olhares.

*Quadro 30x40 (Acrílico sobre Óleo) por Leandro Neres;

Sangria Celeste
(Camila Costa)

A Alma se encontra em cores,
descobre caminhos, abre-os, e, por vezes, fecha-os.
Mas fechar os caminhos abertos na alma, dói.
Quase sempre, sangra.
A boca rubra silencia e o céu se abre, vira um mar,
De sangue.
Deserto.
Ao certo.
Uma Sangria Celeste.
O tempo. Cicatriza.
E a beleza aparece: cor, cheiro e gosto de poesia.
Arte.
Ar te faz voar. Avião. Avista outras cores, outros caminhos, outras almas.

"Num deserto de almas também desertas,
uma alma especial reconhece de imediato a outra.”
[Caio Fernando Abreu]

Publicado orginalmente em Cera Quente.
http://ceraquenti.blogspot.com/

Apto 101 - O restaurante - IV

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Imagem em photobucket

(Des)Identificadores sociais
E retornou de viagem. Leve tempestade pelo caminho. Casas desmoronadas assombraram boa parte do percurso. Parou num restaurante caseiro na beira da estrada. Olhou pelo espelho do retrovisor, lembrou de seu tom negro que logo lhe conferia a diferença necessária para algum diálogo, recusa, interesse ou indifereça. De tanto observar olhares transformou isso num jogo, uma brincadeira social. Ao entrar no recinto logo sorriu com o jeito tímido e apressado da jovem moça de fita amarela. Fala apressada, insegura, olhava com admiração e profundidade. Logo lhe chamaram a atenção e foi correndo arrumar o jogo de talheres. Ele sorriu disfarçadamente, ficou olhando e escolhendo do que lhe seviria, achou estranha a comida, batata, frango, feijão sem caldo e arroz com milho. Ficou até com receio. Pensou em procurar outro local, ficou estático até ver um sorriso metálico, pele clara e rubra, olhos castanhos e cabelos de imigrantes da baviera. Aceitou o desafio, perguntou se o restaurante era alguém conhecido, era de seu pai. Ela indicou o local para sentar e perguntou se ele era paulista. Ele disse que não, e perguntou o porquê, mas já sabia que era o sotaque, ela completou retratando o sonho de ser modelo na capital paulista, falou de uma prima e logo recebeu outro chamado, pediu desculpas e se retirou. Viu certo agito na cozinha, umas rindo e outras nervosas e um senhor de bigode engraçado falando sério. Descansou, ficou vendo uma freira pedindo ajuda no telejornal, "quando as pessoas sentem a dor de outras como se fossem suas ou de seus familiares elas ajudam e é isto que está acontecendo, nunca recebemos tanto apoio e solidariedade, a igreja é uma extensão de todas familías a estas pessoas que não encontram abrigo neste momento". Despertou para o relógio e viu que não poderia demorar mais naquela estrada, a moça voltou e agradeceu, pediu que ele retornasse quando pudesse e lhe desejou boa viagem. Ele viu ali um mundo de sonhos, uma casa antiga no meio de montanhas, uma tentativa de fuga, um contraste. Desejou que seus sonhos se realizassem e que não tivesse medo... Achou interessante essa troca de olhares, se sentiu desgastado, já tinha vivido essas buscas e saído de sua paisagem bucólica, compreendia aquele olhar, a insegurança, o medo, o desespero infantil, o flerte que não saiu, o sorriso como melhor meio de se expressar; um passado que até esquecera, mas um olhar que lhe disse e abriu páginas de histórias durante seu retorno, toda paisagem, montanhas, lagos, cavalos, casarões lhe indicavam o caminho de volta, a poesia visual que lhe cantava num ritmo antigo e redescoberto. Ficou pensando sobre como seu jogo não fez sentido algum naquele encontro. O tom não deu cor aquele cenário, mas sim uma busca que estava além do contato visual, aquele olhar era profundo e o sorriso revelador.

Clichê

sábado, 31 de janeiro de 2009

Imagem em DeviantART


Cala.
De tua investida pungente desfez minha procura de paz.
Calada, agoniza meu salto ao caminho da vida.
Saída fugaz que me expulsou de teu racional sentimento.
Calou-se e criou teu muro.
Fugiu para um abraço que desconheço e me destrói.
Calando disse tua verdade.
Disse teu verbo odiar e anulou minha esperança.
Calado escrevo versos clichés de sábado chuvoso.