Reflexos de um sublime amor.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Uma troca de olhar sincera, eu paro, sinto-me desajeitado, minha blusa marrom e minha calça velha, estranho que há tanto por fazer e fico com essa mania de olhar meio de lado, torto, sempre com uma ou outra mão no bolso. E ela nota isso, sempre se deu conta de minha insegurança, essa imagem que eu vejo no espelho e só ela consegue interpretar, como se soubesse o porquê de cada gesto, ou até o previsse antes mesmo de eu pensar em fazer. Esta imagem é meu silêncio refletido em desajuste, minha calma após tamanha tempestade de dias em luto, um cortejo fúnebre daquilo que nem chegou a nascer. Se foi amor, ele se foi só, foi quase-amor, foi desencontro, estrela intocável num poema de algum poeta do sul.E lembrando de seus olhares refletidos em cartas e poemas não publicados viu que nunca encontrou, assim como ao olhar nos seus olhos viu as marcas que denunciam todo desencontro de amores sós.
Ela sentia medo desse tão conhecido reflexo. Como se ele fosse decifrar seus pensamentos mais torpes, como se a imagem toda maquiada do seu rosto não conseguisse camuflar medos e apreensões. Ela tinha olhos de ressaca, não os de Capitu, seus. Suas ressacas, suas marés, seus indo-e-vindo. E não queria enxergar em si a personificação mal esculpida da confusão, então virava o rosto, como uma ingênua criança... Ela sabia que era como uma flor, não era uma flor comum, era flor sem espinhos, que seu perfume conquistava e lapidava qualquer pedra embrutecida pela dor. 

Ela não era espinhos, era rosa dos ventos que guiava seus amantes aos mais puros pensamentos, as sensações de paz, aos sons de cura vindo de paisagens  bucólicas, livres e de paz. Mas insistiam em não saber como olhá-la. Eles eram como aquele que diante do espelho não sabia ver quem era e só via dor e desencontro. Ela lhe mostrava os melhores caminhos, as melhores rotas de fuga, soprava em seus ouvidos como fugir da tentação que era tentar tocá-la, ela, a flor mais bela e pura encontrada na natureza se sentia espinho, mas não era, nunca feriu, nunca seria capaz de ferir. De tanto ver sofrerem ao não saberem lidar com sua mágica e poesia não via pelo seu espelho a imagem de quem realmente sempre foi. Por dias olhava e parecia cega diante das palavras de acusação que injustamente sopravam em teus ouvidos. O espelho nada dizia, só mostrava teu silêncio, só teu silêncio seria capaz de lhe revelar quem ela era...
Um dia, um homem-poeta-músico-pensador a compreendeu. Ele se viu no reflexo dos olhos dela, e encontrou o espelho de sua alma. Sem desenhar as palavras que sempre foram escritas em papéis machê, sem machucar as folhas de tão delicada rosa, ele simples a tocou, com a mesma magia sublime que dedilha e rouba notas o violão. E ela, embriagada, pela primeira vez, com a melodia do amor-canção, se entregou. Pois o vidro, que outrora mentia em reflexos, finalmente se desturvou, e nele ela se via e se sentia. Eles se compreenderam numa mistura de prosa, versos, notas, folhas, flores, espinhos e excitação. E todos os espelhos foram olhados e tantas vezes se viram, como pra guardar em si cada pedacinho desse inédito momento. Tão sensíveis que eram, sabiam que como surgiu, podia se acabar. Como um reflexo.
Imagem retirada de DeviantART

8 comentários:

Anitha disse...

Meus aplausos de sempre. Cada vez mais fortes e emocionados.
Parabéns, Lê e Camila! o/

Camila disse...

Como você mesmo disse... Nossa!

Foi um prazer imenso escrever esse texto com você. Tenho que admitir que estava com um pouco de medo, não é todo dia que escrevo "ao lado" de um escritor, de um poeta. Na verdade, foi a primeira vez que escrevi com alguém, e como foi linda essa primeira experiência! Como foi gostosa a sensação de esperar você completar meus pensamentos, como se fossem realmente os seus. E foi incrível a naturalidade das palavras, a facilidade da construção.

Espero que venham outros e outros, que esse seja o primeiro de muitos sentimentos compartilhados.

Muito obrigada por essa parceria!
Já adorava você, agora adoro mais!

Beijos!

Letícia disse...

Sim. Estou aqui e já li. Como sou à moda antiga, leio tudo mais de uma vez. De primeira, digo que certas palavras combinadas respiram melhor. É como na química e aqueles elementos. E este texto-conotativo-romântico, é o marco de um recomeço ou começo de dois escritores que combinam flores e espelhos na mesma melodia. Eu preciso dizer que adorei? Sim, eu adorei.

"As marcas que denunciam todo desencontro de amores sós."

(Leandro e Camila)

É o centro do texto.
Loved it.

Anônimo disse...

Ai, esse escrito trouxe uma brisa longínqua à minha alma...
Pude ver o meu reflexo em cada verso...
Amei! Está divinamente belo...Parabéns!

Papoila das Praias

Anônimo disse...

Lindo e lindo!!!
Essa parceria ainda vai render ótimas leituras pra mim!!!
Parabéns, Leo e Camila!!
Beijão

Anônimo disse...

Comunhão de sentidos e sentires, perfeita união de poetas.
Belíssimo texto, exaltação do amor.

lindos dias
beijos

Lorena disse...

Eu li... nossa. Não tenho muito o que dizer, só que me emocionei com o texto, muito.
Vocês dois já são uma dupla de sucesso! hahahaha! Lindo, adorei mesmo, esse negócio de parceria parece bem legal mas acho que ainda não consigo escrever em dupla...

Beijos aos dois!

Amigao disse...

Fiquei emocionado com este texto a quatro mãos. Muito lindo. Tenho fascinação por espelhos, não pelo que mostram (isto eu não gosto) mas pelo que queria que mostrasse.
Parabéns a dupla.
Beijão do amigão!