terça-feira, 13 de maio de 2008
13 de Maio de 2008. Muitos anos se passaram e a abolição ainda não se concretizou. As estatísticas são duras e concretas demais para os descendentes dos africanos neste país! Poderia citar os números mais horrendos possíveis, mas não é disso que quero falar neste dia. Quero começar pelo gesto de imbecilidade servil pseudo-cult (neologismo aos pensadores que a mídia elege por apresentarem características intelectuais, mas que num sentido estrito não possuem formação e estrutura argumentativa para tal) do pop Caetano Veloso, reconheço sua história e importância para o Brasil, mas este ato foi de extremo repudio. A sua assinatura contra as medidas tomadas pelo projeto de Igualdade Racial. O ProUni pode ter suas falhas, mas ajuda muitos a entrarem para as universidades, pessoas que jamais teriam acesso a Educação Superior... A discussão sobre esses assuntos sempre procuram ser circunscritas pelos que se consideram os portadores da verdadeira cultura e consciência brasileira. Caetano teria sido muito mais útil a população brasileira se utilizasse do seu poder simbólico de músico politizado para levar a discussão para os meios acadêmicos, para as TVs e escolas. Parece que sempre é mais confortável sentar no seu banquinho e cantar músicas de liberdade, escondido por traz de uma carapuça de libertário. Caetano, aquele que sentia orgulho por tuas composições, agora, não te ouve mais. Como se Caetano fosse ler isso algum dia(bobinho eu!), deve estar ocupado com sua agenda militante pro-falácia intelectual.
A discussão ainda não amadureceu... Poucas iniciativas foram implantadas... Concordo plenamente que as ações afirmativas não se resumem a sistema de cotas; estas que possuem, de fato, suas incoerências, mas que não devem ser abolidas, afinal, quer mais incoerência do que o Sistema de Educação brasileiro? Seus critérios de seleção para universidades, seus questionáveis critérios de destinação de verbas a universidades, etc... Ações afirmativas incluem um campo de atitudes e métodos muito mais amplo do que se divulga na mídia, e isto tem que ser levantado, discutido entre os jovens, os mais interessados no assunto... Eu, tenho uns 10 amigos que estudam pelo ProUni, pessoas que tiveram grandes mudanças em suas vidas por causa deste sistema... Imagino, que não só eu, como mais pessoas conhecem e usufruem deste sistema... Mais discussão, mais argumentação, isso é o que precisa-se neste momento. Mais iniciativas. É o que toda a população pobre, preta, negra, afro, indígena, quer.
Nunca fomos covardes!!!
Os negros, escravizados sempre tiveram suas atitudes de coragem, sua autonomia frente as adversidades, suas buscas, levantes e vitórias! Povo de luta, força, coragem e ousadia! Assim romperam estigmas, superaram desafios, venceram a dor, trilharam seu próprio caminho. Assim, famílias vieram da Bahia, foram para Minas, estacionaram em vilas, brejos, São Caetano, Mangas, sempre em busca de sua liberdade, e hoje estão aqui, em Mato Grosso do Sul, Três Lagoas, e outros tantos brasis, outras tantas famílias Oliveiras, Silva (sobrenome que marca a herança daqueles temos de escravidão, sobrenomes adotados, imputados)...
Outros se fizeram mais notados, Machado de Assis, Pixinguinha, Zumbi... Entre tantos outros... Quem dera nas escolas estas referências fossem melhores exploradas... Talvez eu não tivesse demorado anos para saber que Machado era negro, intelectual e vivia do pensar, não era escravo, nem autoritário, era poeta, escritor, sonhador! O plano de disciplinas sobre cultura afro nas escolas tem que dar privilégio para estes personagens da cultura negra... É o caminho mais fácil e compensador para se ter orgulho de ser negro neste país... O sociólogo Erving Goffman, criador da pesquisa em torno do estigma, deu uma chave hermenêutica estratégica para entender o que o movimento afro, negro busca nos dias de hoje. Aquilo que era estigma atribuído aos negros, em torno de sua raça e história, hoje é revertida pela população como estandarte, o estigma se converteu em identidade própria, exaltada! E seria bom se nas escolas as crianças tivessem seus referenciais de aceitação.
Reivindicação
Para que se consiga ser ouvido por uma causa é necessário que se saiba utilizar dos meios de comunicação, para que se consigam mais simpatizantes e adeptos de uma causa. A própria história mostra que a presença de negros na Universidade é insignificante. Por isso, seria interessante que debates mais coerentes ocorressem... A questão das ações afirmativas também é epistemológica. A disponibilização de recursos para que parte da população excluída da Educação a tenha acesso, pode ser interpretada como uma devolução de espaço vedado por décadas de exclusão.
Diga-se de passagem, que a proposta enviada ao governo, defendida arduamente por militantes como Dr. Paulo Paim tem os "negros" como figura argumentativa, não restritiva, pois se compreende que o racismo e preconceito brasileiro não se dão por questão de descendência e sim por epifenômeno. Neste momento, acredito que o mais importante seja a discussão, aberta, sem manipulação. Infelizmente, a mídia e suas marionetes (Caetanos, diga-se de passagem) não têm contribuído neste aspecto. Assim termino este texto, por uma discussão mais aberta, pois pela confluência, divergência, aceitação de ideias e opiniões que se pode aprofundar num assunto.
Leandro
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