Nós em jazz...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Imagem em deviantART


Um último encontro no tempo em que era paz
Preocupação com preço de bilhete de ônibus
Levar bicicleta pra consertar e esperar em
fila de banco...

Um último encontro com a tentativa de
resgatar a amizade de tempos atrás
de anos perdido...Escondemos-nos. Todos nós.


Cada um sabia de sua solidão.
E caminhando calados foram
se esquecendo. Não lhe permitiam a dor
do confronto.

Estação de desilusão. Ele não suportou
tamanho sufoco. Apatia em dissabor. Em
mentira estampada em cada frase de auto-
-consolação.


E se foi, fingiu ser herói. Em sua dor e
desespero fugiu para se reconstruir.
Deu o melhor de si. 

Engoliu em doses
absurdas todas as letras. E engolindo
as palavras foi perdendo tudo o que possuía.

Perdeu a fé, perdeu a herança e sua tradição.
Ele não era mais. Encontrou com filósofos
e fumadores de ervas e charuto.


Numa noite chuvosa ele recebeu o último
adeus. Não havia chão, nem para onde ir.
Tudo o que ele queria era escapar para algum
lugar. Mas não podia. Não tinha para onde ir,
nem o que fazer. Foi a dor mais terrível.

Foi ao pior veneno e teve que engolir.
E além das palavras ele passou a engolir
cianetos em provas de superação. A cada gole
uma parte de si que fugia.


Tomou coragem. Lembrou cada cena do último
momento. Quis eternizar o tempo em que era
paz, em que havia harmonia. Eram sós, mas
eram um.

E sentou de fronte a grama verde.
Era aparente a sua fraqueza. Ouvia pessoas
comentarem sobre sua repentina mudança.
Mas ninguém nunca, em momento algum falou
com ele. Ele apresentava-se tão forte
que não poderia precisar de ajuda.


E sentado ele enfrentou só teu desconcerto
com a vida e com o que havia de luz.
Ele escreveu palavras de força. 

E não foi Cristo quem o socorreu. 
Não foi mesmo. Cristo não lhe disse nada. 
A Santa Ceia naqueles dias 
não passavam de pão e circo. 
E a dor, só, aumentava.


Quem lhe socorreu foi um daqueles
filósofos com cheiro de fumaça e odor de maresia.
Aquilo que não lhe destrói o fortalece, 
soprou-lhe o anti-profeta alemão.

A esperança só pode vir por meio de desesperançados.
A esperança daqueles que haviam paz não lhe servia.
Não poderia lhe ser útil.


E enviou aquele papel rabiscado e trêmulo.
A dor fugiu junto com aquelas palavras.
Vomitou do veneno. Bebeu do cálice e do pão
como se fosse a sua primeira comunhão.


E o último encontro foi encontro de paz.
Eles não mais estavam sós. Eles tinham abrigo.
Moravam distantes. Mas sabiam que cuidavam
cada um de si. E que o fim não era sombrio.
Mas a alegria de algum dia se reencontrarem
em paz.

18 comentários:

Custódia C. disse...

"... E o último encontro foi encontro de paz."

Deviam ser todos assim os encontros .. de paz!

Obrigado pela visita :)

Mylle Li disse...

muito lindo!

disse...

Que dor ele sentiu, mas quando bebeu do vinho e comeu do pão encontrou a paz, essa paz tão desejada por todos nós!
Lindo meu querido Leandro, quanta reflexão podemos tirar sua poesia. Profunda e bela.

"E enviou aquele papel rabiscado e trêmulo.
A dor fugiu junto com aquelas palavras.
Vomitou do veneno. Bebeu do cálice e do pão
como se fosse a sua primeira comunhão.


E o último encontro foi encontro de paz.
Eles não mais estavam sós. Eles tinham abrigo.
Moravam distantes. Mas sabiam que cuidavam
cada um de si. E que o fim não era sombrio.
Mas a alegria de algum dia se reencontrarem
em paz."

Tenha um lindo e pleno dia que Deus te abençoe!

Vovó Rô!

Maria, vulgo dos livros disse...

Lindo o texto!
'A esperança só pode vir por meio de desesperançados.' - vou colocar no msn xDD

Beijos!

Letícia disse...

Vou logo tecendo minhas adorações. Sim, é mesmo na desgraça e na dor que se pode encontrar outro caminho. Penso sempre nessa questão de felicidade absurda. Como você pode conhecer a felicidade se nunca pediu socorro ou se sentiu mal por um dia? É que somos humanos e sofremos e nem sempre Cristo vem diretamente a nós. Ela pode e usa atalhos. São as pessoas - talvez as mais malucas e estranhas - que podem nos ajudar. Poema que me parece um homem sentando num jardim olhando o céu e pensando na vida.

Poema de quem vive a vida e sabe os caminhos.

E eu li ouvindo Aimee Mann. One. A música é uma das minhas favoritas.

Lorena disse...

^
Uma das minhas favoritas também, mas eu li ouvindo alguma diva do jazz que não reconheço a voz... Só sei que o lamento da moça casou perfeitamente com seu poema, Leo. Perfeitamente porque é tudo perfeito... Viagei contigo na sua dor dilacerante e no seu reencontro com a paz. Fui ao encontro dos filósofos que te responderam o que vc precisava ouvir, observei de perto a grama verde e te vi lá também com a máscara de força (eu tb tenho uma). E te vi regurgitar o veneno e tomar de novo a ceia que é a vida nova... Que bom! =)
Lindo poema, mais que lindo, toca lá dentro da gente... Eu adorei!
beijos..

Camila disse...

Leandro, fico muito feliz por você achar que aquele meu texto ficaria bom no Bilhetes (na verdade fico quase dando pulinhos de alegria porque acho tudo que é escrito por lá de uma sensibilidade e uma criatividade imensa), mas nem sei "jogar ele lá" (não esqueça eu sou nova por aqui, algumas coisas ainda precisam ser explicadas pra mim... hehehe) e estava precisando mesmo voltar pra casa um pouquinho (gostei tanto do sofá que o assunto por lá ficou sendo só esse), então depois me explica como postar um texto lá no Bilhetes, tá?

Ain... Olha essa minha frase, gigantesca e os parênteses acabaram ficando maior que ela, depois você vai achar que eu não sei escrever direito... heheheh... Mas, quando eu crescer, ainda escrevo um lindo poema em narrativa, como esse que você escreveu, mas só quando eu crescer... =P

Beijinhos!!!

Márcia disse...

Na solidão ao som do jazz, no embalo da filosofia, encontrou sua paz,e ela é blues.

lindo dia querido
beijos

Germano Viana Xavier disse...

Desejo de paz e harmonia e um mundo explodindo em nostalgia. E há outros no turbilhão do caos, querendo assim. Vejo um sentimento tombado em verdades e uma esfera de saudade. Um poema blues, mesmo jazz.

Abraço forte, Leandro.
Continuemos...

Anônimo disse...

Deixa eu te dizer meu amigo: Phodástico. Fantástico, triste, melancólico, simples... Um texto que é parente do texto da Lorena no Bilhetes (Maria-vai-com-as-outras). Parente distante porque sao realidades, e vidas, e universos distintos. Parente daquela imagem da flor saindo do asfalto (algo assim) que a Lorena também postou.

Esperança brotando da desesperança. Coisa bela brotando de dor. A esperança só pode vir por meio de desesperançados. Um texto parente da agonia devocional de Nietzsche.

E eu tou comentando aqui, e a imagem do Che aqui ao lado me dizendo alguma coisa que eu nao sei com a cabeça, só com a alma mesmo.

Muito bom mano.

Inté!

Fabio Hnrq disse...

obrigado pela vista... e pelo comentario e generosidade... :)

muito, muito bom mesmo...

vou te explicar por que eu gostei:

soy tarado (nao sei se posso soltar meu linguajar aqui nesse blog de familia) por 'trajetórias' e.ou 'viagens' - em todos as situacoes que cabem esses adjetivos. É justamente por isso que eu sou discipulo de walter salles: o cinema dele tem sempre uma "viagem" (Central do Brasil> viajando para encontrar o pai; Diarios de Motocicleta> nuestro mestre Che, seu amigo e a La Poderosa; Abril Despedaçado> a 'viagem' do cara de uma situacao para outra) e aqui chegamos ao ponto em comum com esse post.

Me gusta (NAO falo espanhol como ja deve supor) muito minuciar em detalhes a trajetoria de alguem. Uma boa letra precisa disso.

Vou escrever mais essa linha pra saber se tem limite de caracteres no comentario.

Nao, acho que nao. rsrs

Seja sempre vindo e bem vindo no maresertao.

Camila Costa disse...

Que lindo Leandro, melancolia ao som de jazz. Naturalmente não me causaria tanto como fascínio como agora.

beijo :*

Cadinho RoCo disse...

Daquilo que não encontramos é que somos remetidos a outras novas buscas.
Cadinho RoCo

Amigao disse...

Amigao, nao to conseguindo deixar recadinho ali no box, e preciso falar com voce. Kd seu email?

Anônimo disse...

"Engoliu em doses
absurdas todas as letras. E engolindo
as palavras foi perdendo tudo o que possuía"


que coisa mais linda...

Voltei com o blog...seja o primeiro a me re-visitar...suahauahuaa

Bjs :)

Dulce Miller disse...

"Aquilo que não lhe destrói o fortalece"... Sim, eu sou a prova viva disso!
E depois da tormenta, finalmente encontrei minha paz!

E li o texto me lendo nas entrelinhas...
Beijão procê!

Unknown disse...

=D

Unknown disse...

Obrigada!
Bom domingo.

Beijos