sexta-feira, 19 de setembro de 2008
O mal e o sofrimento são, portanto, o modo como estamos sempre em Deus e dele nos recordamos quando ainda estamos longe, vivendo no exílio da criação.
Leonardo Boff
(...) ele intensifica a libertação de nós mesmos e da nossa liberdade para a Liberdade, que é Deus.
Romer, K. J.
Leonardo Boff
(...) ele intensifica a libertação de nós mesmos e da nossa liberdade para a Liberdade, que é Deus.
Romer, K. J.
Escrever é mesmo um ato de liberdade? Começo a duvidar, a sensação é que depois que alguém se vê em palavras isto torna-se uma uma condenação. Parece que estou condenado a escrever, mesmo não conseguindo, sinto uma bigorna em peito pedindo pra ser derrubada. Depois que entrei nesse universo de palavras para alguém alguma coisa mudou. Eu sempre escrevi e tenho muita coisa que ninguém nunca irá ler, parece-me uma época tão boa. Eu escrevia porque amava escrever, ninguém lia, meu único leitor era um eu mais velho. Agora escrevo porque não consigo deixar de escrever. Todos os dias leio, e decido entre escrever e não escrever. Não sei se é racional esta minha pergunta, mas ou me tornei um neurótico literário ou os existencialistas estavam errados. Talvez isso tenha a ver com minha velhice, quando era novo e jovem minha única preocupação eram minhas provas, minha professora de português e aquele sorriso, o mundo que viria seria belo, vitorioso, com notícias estampadas nos jornais... Agora o mundo é mais real e cru. Pensando assim poderia chegar a conclusão de que não seja nem neurose, nem relação alguma com um esses filósofos do passado. Pode ser uma condição própria de meu tempo. É assim, para meu tempo o fim parece estar muito próximo. Por isso o medo canta e isso tenha se tornado um fardo, um martírio, um veneno que consumo por obrigação dada desse universo que me construiu. Ou nada disso, pode ser que meu problema seja realmente minha timidez. Talvez seja só uma frustação por estar antes de onde já queria estar. Talvez seja essa minha inquietação que causa essa deficiênia de nunca ter respostas para nada, vivo de perguntas, não sei fazer afirmações absolutas e me satisfazer. Por isso, quem sabe, escrever para mim é um fardo. Ou quem sabe seja meu rompimento com minha fé, antiga. A fé que vem se renovando não está se construindo, ela se dilui. Quando eu vou lá, ela se esvai. Estranho, mas o único objeto que me ainda é concreto é a cruz. Tudo isso pode ser que sejam só questão de uns dias, ou da lua como disse uma amiga. Pode ser que quando eu era jovem também tinha essa mesma preocupação de hoje, mas como ninguém lia era mais fácil de rasgar e esquecer. Pode ser que nada do que perguntei faça sentido, o que neste caso seria um grande alívio.
Entorpeço-me por esta última, antes que alguma verdade calada volte a me incomodar.
11 comentários:
Não sei se você leu Clarice, mas ela diz "Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas,
continuarei a escrever."...
Escrever é isso também. Procurar respostas para perguntas sem respostas... É também doar-se um pouco aos outros, porque é expôr aquilo que se tem de mais íntimo, os pensamentos. Eu tinha muito medo de escrever abertamente antes de criar o blog, e continuo tendo hoje, isso não mudou... Pensar que pessoas vão ler você traduzido em palavras é algo, no mínimo, assustador. Mas é confortador também quando vemos que outras pessoas pensam como nós. Dividimos um segredo; a intimidade dos nossos pensamentos, teorias, devaneios, sonhos... Agora escrever virou um peso e uma obrigação. Se não escrevemos o peito afunda de culpa, a mente fervilha de idéias, as mãos procuram ansiosas o teclado (papel, caneta, o que for melhor). Se escrevemos, o alício é apenas imediato. Não demora muito e nos preocupamos novamente com quem vai ler, quem vai comentar, o que vão dizer... E depois, nova bigorna de ansiedade por escrever ainda mais. É um ciclo vicioso!
Romper com a fé: eu não aho que isso seja algo ruim. Porque eu tenho certeza que é algo que vai ser re-construído, e muito mais forte. Vc citou Leonardo Boff lá em cima e eu me lembrei de algo que li em um livro dele, não vou saber reproduzir as palavras fielmente, mas ele diz que todo místico passa por um momento de profunda dúvida e desonstrução da fé. É um processo necessário para que o final seja grandioso, a fé inabalável do final só virá, v erdadeiramente, se houver essa desconstrução, essas dúvidas, esse peso na alma, essa luta interior... Então, não tenha medo disso. Acho que é uma provação necessária (Boff acha, eu concordo =P).
Foi ótimo ler um texto seu depois de um tempo... Eu estava com saudades.
beijos
o Truman Capote abre o livro In Cold Blood, com uma chamada para esse tema que arrepia.
flagelo total é escrever, meu amigo.
desejo-te sorte.
Xavier
E você escreveu e eu li.
Belo relato, Leandro. Você abriu a porta de casa e deixou o sol entrar. Escrever é liberdade, mas não precisa ser obrigação. Digo da liberdade porque quando se escreve, palavras passam a tomar sentido próprio numa corrente de pensamentos que chegará a um fim. Que pode ser o verso que fecha um poema ou o climáx de um conto ou também a assinatura em uma carta. Tudo se liberta da gente quando se transforma num texto. Mas obrigação de escrever e mostrar é o que corrompe a pureza do que se é dito. Acho que muitos escritores que já não estão mais por aqui, se sentiram assim um dia. A velha cobrança de fazer de novo porque leitores têm sede e escritor de verdade é um poço sem fundo de tanta sabedoria. Tudo conversa fiada. Ninguém tem a verdade plena ou sabe o segredo de uma boa produção textual. Aí entra a nossa amiga Inspiração. Você sente, escreve e depois arruma o texto e entrega ele ao tempo. Se Deus ou anjos ou outras leituras lhe servem como caminho para pensar melhor, refletir e criar outro mundo, que seja assim então. Sempre haverá preocupação em ser admirado, mas dessa forte forma, respirando e dando intervalos à sua literatura, você se torna um escritor e não uma máquina de achados e perdidos.
Adorei seu ato de liberdade.
E você criou nova tese:
A Neurose Literária.
Bjs, amigo.
E muitas conotações de paz.
Aviso: O comentário a seguir é curto e sem conteúdo.
Eu li. E também gostei do "neurose literária". Eu li[2].
Eu entre eu mesmo: Até escrevo mas ando sem vontade de escrever textos de verdade. Quero poesia, daquels que escondem coisas.
Off.
Grande texto mano.
Obrigada pelo meme, já ta respondido!
Abraços!
Não concordo com o lance da velhice (rs*), de resto as perguntas é que dão sentido à todo o conteúdo. Seria um tédio se elas não existissem.
Leandro, respondi ao meme!! Bom fim de semana! Beijus
...meu único leitor era um eu mais velho [2]
Fiquei curiosa pra saber qual é a tua idade real, Leandro...
Beijos!
Leandro
Retribuindo a visita e agradecendo pelas palavras carinhosas.
Sinta-se a vontade para visitar o meu cantinho, prometo que virei aqui mais vezes.
Sobre o ato de escrever, meu caro, somos muito felizes por termos essa liberdade que é escrever. Prova disso são os nossos blogs, e o melhor é escrever para nós, sem regras, sem preocupações se alguém irá gostar...
Um forte abraço
"Agora o mundo é mais real e cru."
É exatamente isso que não me deixa mais escrever. Também escrevia porque gostava, Era uma espécie de mundo paralelo, que só eu tinha a chave. Parece que a perdi. Se eu escrever sem segurar as rédeas, vou me expor demais. Acho que também desenvolvi medo das palavras enquanto o tempo passava...
Como me identifiquei aqui nesse post. Cada vez mais sou seu fã. Qualquer dia desses vou presidir um fã-clube. Não seria legal Fãneresclub! Abração!
Nuus, perfeito o post!!
Eu as vezes tenho a impressão que meu único leitor é o meu eu!!!
BEeijooos
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